Revista Diocese Informa: Entrevista com Mons. Dario Viganó
05.07.2017
Texto original publicado na Revista Diocese Informa - nº72 | Ano 7 | Julho 2017
Por Jean Patrick
O Papa Francisco será representado pelo Monsenhor Dario Edoardo Viganò no 10º Mutirão Brasileiro de Comunicação que acontece no próximo mês em Joinville/SC. Dario Viganò é o secretário de comunicação do Vaticano e exerce o cargo desde 2015 na Secretaria para a Comunicação, criada pelo Papa Francisco no mesmo ano. Lá, ele tem a missão de servir e responder as exigências diárias na vida da Igreja e que precisam da comunicação para se propagar. No dia 16 de agosto de 2017, Monsenhor Dario Viganò irá palestrar na conferência de abertura do 10º Muticom com o tema: “A Comunicação na Igreja na perspectiva do Papa Francisco”. A Revista Diocese Informa conversou com o secretário e traz um pouco do universo que envolve a comunicação da Santa Igreja.
Revista Diocese Informa: Como surgiu a oportunidade de exercer sua função no Vaticano?
Monsenhor Dario Viganò: Para mim, a atividade no âmbito das mídias e da comunicação começa desde os anos da formação em Milão. Fui ordenado pelo Cardeal Carlo Maria Martini em 1987, ano em que o cardeal escreveu as Carta sobre a Pastoral da Comunicação. Martini então me enviou para especializar-me em comunicação e eu foquei minha atenção para o cinema e audiovisual. Após o doutorado, fui chamado para Roma pela Conferência Episcopal Italiana e, no mesmo período, me tornei presidente da “Fundação Ente dello Spettacolo”, e comecei também a dar aula na Pontifícia Universidade Lateranense, onde me tornei professor de Teologia da Comunicação e presidente do Instituto Pastoral. Na Santa Sé tudo começou em janeiro de 2013, quando papa Bento XVI me nomeou diretor do Centro Televisivo Vaticano. Depois de poucos dias tive que enfrentar a renúncia do Papa Bento XVI, que foi seguido por sua dispensa do Vaticano, a sede vacante e, em seguida, a chegada do Papa Francisco. Todos eventos que entraram na história da Igreja, assim como na história dos meios de comunicação. Não posso esquecer a emoção compartilhada com todos os meus colegas, depois de dias de muito trabalho, após ler as palavras do jornal italiano, Corriere della Sera, e a revista internacional Huffington Post: ambos destacaram o fato de que as imagens produzidas pelo Centro Televisivo do Vaticano para documentar a transferência de Papa Bento do Vaticano representava "uma grande produção cinematográfica". Em junho de 2015 o Papa Francisco me convidou para reorganizar o sistema comunicativo da Santa Sé, colocando-me à frente da Secretaria de Comunicação. Esta é a missão. O segredo consiste em escutar. Porque desta forma se aprende muito dos outros. Não perseguir projetos pessoais, mas escutar aquilo que pede o Espírito Santo. Por último, não se preocupar em responder a lógica mundana de alianças com os poderes constituídos.
R.D.I.: Quais são as principais funções da Secretaria de Comunicação?
M.D.V.: O “Motu Proprio” é claro. À luz do atual contexto comunicativo, onde se destacam os meios digitais, exige "um repensar do sistema de informação da Santa Sé e uma reorganização que, valorizando o que a história tem se desenvolvido [...], se caminhe em direção a uma integração e gestão unitária". A Secretaria de Comunicação está trabalhando há dois anos para completar o importante projeto de reestruturação dos meios de comunicação do Vaticano, um trabalho dividido com o C9, o grupo de nove cardeais com o Santo Padre. Foi também importante o suporte dado pela Secretaria de Estado. Na Secretaria de Comunicação temos os seguintes trabalhos: Assessoria de Imprensa, Serviço de Internet do Vaticano, a Rádio Vaticano, o Centro Televisivo Vaticano, o jornal L'Osservatore Romano, Tipografia do Vaticano, serviço de fotografia e a livraria e editora Vaticana. Estamos na metade da estrada do percurso da reforma, um trabalho no qual encontrei, obviamente, muitas dificuldades em relação ao complexo processo de mudança; no entanto, não são resistências insuperáveis. Fundamental é o patrimônio de profissionalismo: em torno de 600 funcionários. Com muitos deles tivemos seminários, cursos, pesquisas com uma série de universidades: La LUISS, Guido Carli, la LUMSA e a Pontíficia Universidade. ACRESCENTAR UNIVERSIDADES.
R.D.I.: Como é trabalhar com comunicação na Igreja Católica?
M.D.V.: Viver numa dimensão missionária a experiência de uma Igreja em saída. Significa anunciar o Evangelho da Misericórdia para todos os homens e mulheres de todas as línguas e culturas. Além disso, é o que o Papa Francisco nos pede também em suas mensagens por ocasião dos dias mundiais das Comunicações Sociais. Vamos dar atenção à última mensagem, no 51º, o Papa recorda que "a boa comunicação", comunicação construtiva, favorece "uma cultura de encontro, graças a qual se pode encarar a realidade com esperança e confiança". Ainda na 48ª mensagem, Papa Bergoglio destaca que: "os meios de comunicação podem ajudar a nos sentirmos mais próximos uns dos outros; fazer sentir um renovado sentido de unidade da família humana que leva à uma maior solidariedade e o empenho sério para uma vida mais digna. Comunicar bem te ajuda a ser mais próximo, a nos conhecermos melhor e sermos mais unidos". O trabalho a que somos chamados a cumprir, todos nós trabalhadores da comunicação, é anunciar os acontecimentos e fornecer um aprofundamento analítico sem deixar-se levar pela lógica da fama ou da massificação. Devemos lembrar em nosso trabalho comunicativo de deixar-nos guiar sempre para as boas notícias, como destaca o Papa, ou mesmo anunciar uma notícia difícil sem esconder as perspectivas de saída, um horizonte de possibilidades e porque não, de esperança.
R.D.I.: Como é trabalhar ao lado do Papa Francisco, um grande motivador de comunicação?
M.D.V.: Papa Francisco é muito parecido com São Francisco, anuncia o Evangelho e, se necessário, usa as palavras. Em outras palavras, sua vida, o seu estilo de encontro pessoal, os gestos têm o gosto e a cor do Evangelho. Resumindo os seus métodos de comunicação, podemos ver que Papa Bergoglio tem um estilo acessível e inclusivo, orientado sempre para o encontro. Recorre sempre a metáforas, apologia ou anedotas, todas as formas linguísticas que favorecem a compreensão e a divulgação. É uma referência à vida cotidiana de todos, à vida comum. Além da eficácia da comunicação verbal, a sua força comunicativa também está nos gestos. É um Papa que se destaca pela atenção e pelos abraços, mas também pelo silêncio da oração. Lembramos sua primeira aparição na varanda da Basílica de São Pedro, quando convidou a praça inteira ao recolhimento e a um profundo silêncio. Também relembramos sua entrada em silêncio no campo de concentração de Auschwitz, em julho de 2016, optando por não proferir qualquer discurso.
R.D.I.: Qual é a sua expectativa para o 10º Muticom em Joinville/SC?
M.D.V.: Estou certo de que será para mim um encontro muito importante, porque eu poderei escutar uma Igreja de muitas cores e de muitas experiências. Em si, uma verdadeira e profunda experiência de comunicação eclesial.
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